Laços Defeituosos | Capítulo 01 - "O Último Desejo" [PREMIERE]


Uma obra de: Sergio Rojas Muñoz
Adaptada por: Aashley




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FADE IN.

CENA 01. CASA DE GERMANO - PÁTIO - EXT. - 15:01.
Uma singela e impecável celebração acontece na casa de Germano. Todos de pé. Diego, Diana, Ignacio, Susana e outros estão conversando e bebendo, entusiasmados e alegres. Um dos garotos se aproxima de Diego, com um microfone em mãos, o abraça, alegre, e começa a falar.
GAROTO - O melhor, creio eu, é que Diego diga algumas palavrinhas, né galera?
DIEGO (envergonhado) - Não, melhor não… Eu não tenho essa coisa do dom da fala. Para com isso, Armando.
ARMANDO - ‘Meu’, ninguém aqui está pedindo que você seja o Pedro Bial. Se sabe falar já basta e sobra. Então, começa, cara. Ou tá com medo, cuzão?
Todos emitem um sonoro “vai” repetidamente, deixando Diego nervoso, porém, ele toma o microfone da mão do amigo.
DIEGO - Bem… Primeiramente, eu queria agradecer, a todos vocês, por estar aqui, formado na faculdade. Aos meus amigos; a minha namorada Diana, que vem me acompanhando em todas as merdas que eu me meti.
Diego olha para Diana, recebendo uma piscada e um beijo a distância.
DIEGO (cont.) - Ao Ignacio, meu… (pausa) Grande amigo… meu ‘parça’, o cara com quem posso contar nas horas boas e ruins.
Diego olha para Ignacio, que demonstra um sorriso incômodo e conformado.
DIEGO (cont.) - Mas, em particular, quero agradecer à pessoa que me proporcionou tudo isso, que fez de mim um homem. Um homem de valores, um homem que pode realizar seu sonhos, um homem profissional e útil para essa sociedade.
Germano observa Diego, de longe, limpando as lágrimas com um lenço.
DIEGO (cont.) - Nada se compara ao que esse homem tem feito por mim. Nada poderia compensar toda a preocupação e entrega desse homem desde que me adotou aos doze anos de idade e me tirou do lugar pequeno, lotado de gente, onde eu vivia. Dividíamos até o ar exalado. Eu, hoje, com vinte e seis anos de idade, posso dizer que sou um importante agrônomo.
Diego levanta em suas mãos o seu título de formação.
DIEGO (cont.) - Porém, isso não é meu. Esse sonho não fui eu quem ganhou. Quem ganhou foi você, pai. Isso é teu, coroa! Teu!
Emocionado, Diego caminha até seu pai, que chora em excesso, em meio a aplausos, e dá um caloroso abraço nele.
De longe, Diana se aproxima de Susana e sussura em seu ouvido, com olhar carinhoso, porém entediada.
DIANA (sussura) - Ai, minha gatinha, juro que se eu não conhece tão bem o Diego, como eu conheço, eu estaria te pedindo um pouco desse lenço que limpa vômito de bebê e mijo de gato na cozinha, pra secar minhas lágrimas por tamanha cena dramática que estamos presenciando.
SUSANA - Ai, meu amorzinho, toma.
Susana bota um doce de anis e mel na boca de Diana.
SUSANA - Se acalme e se adoce. Tudo foi super fofo. Diego é tão sensível. Se eu fosse você, tacava um beijo naquele focinho perfeito.
DIANA - Quê? E por que eu teria que fazer isso?
SUSANA - Ai, lesada, é porque você é a namorada forever dele e deveria estar agora mesmo com ele.
Susana pega Diana pelo braço e pega na bunda dela.
SUSANA - Vai e beija ele. Agora. Ele merece, por ser gostoso.
DIANA - E você acha que por ser a namorada do gostosinho gay, tenho que estar a todo tempo na volta dele, acasalando?! Que bonito… Não sou aquela que fica babando os ovos de ninguém!
SUSANA - É o dia dele, Diana. Aliás, olha, ele está te observando de lá com esses olhos de ratinho. Tá te chamando para a pomba branca.
Susana ri.
DIANA - Ah, rata ordinária, que nojo!
Diana empurra Susana com delicadeza e ri.
SUSANA - Vai, boba, anda logo e lambe todo aquele corpinho.
Diana, desanimada, caminha até Diego e o beija apaixonadamente. Os amigos em sua volta começam a rir e gritam palavras para envegonhá-lo. Germano, com grande orgulho, junta suas mãos e suspira, comovido. Ignacio, dá meia volta e decide tomar uma cerveja, enquanto conversa com um amigo.

CENA 02. CASA DE GERMANO - ESCRITÓRIO - INT. - 20:04.
Germano, vestido elegantemente, está pondo o quadro com o certificado de formação de Diego na parede. Este que oolhava com admiração da poltrona.
GERMANO - Ficou perfeito. Justo ao lado do quadro de minha amada esposa que também deve estar se sentindo mais que contente, feliz e ORGULHOSA por tudo isso que tens conquistado.
Germano soluça, exageradamente. Logo, suspira, dá meia volta e olha em direção a Diego.
GERMANO - Filho… você é simplesmente um máximo.
DIEGO - VOCÊ que é um máximo, meu velho lindo
Diego levanta-se e o abraça e beija na bochecha.
DIEGO - Não existe maneira de te pagar nem de te recompensar por tudo que tem feito por mim.
GERMANO - Ah, garoto. Não fale besteira. Você é o meu maior bem e te vendo feliz, eu sou feliz. Não sabe o quão contente eu estou de te ver assim, realizado, feliz, quase íntegro. E não sabe o quão tranquilo me deixa! É um dos meus últimos passos pra alcançar a felicidade eterna!
Germano abraça Diego, com seus olhos cheios de lágrimas e olhando para o quadro de sua esposa. O local se silencia. Eles desfazem o abraço. Diego começa a chorar. Germano o abraça novamente, parecendo compreender o que está havendo.
GERMANO (calmo/carinhoso) - Não, campeão. De novo, não, meu amor, minha vida, meu mundo. Já falamos disso várias vezes, meu campeão…
DIEGO - É que… é que sabe que pra mim é complicado e me dá uma coisa aqui no peito, e… (pausa, respira, silencia) você vai me fazer muita falta, pai.
GERMANO - Meu campeão… (suspira) eu sei que tenho pouco tempo de vida. Mas não posso fazer nada… E você deveria estar feliz porque eu não estou sofrendo, não estou esgotado… e mais! O que mais desejo é que o tempo passe rapidamente. (sorri) Parece como se me alimentasse de egoísmo, mas não posso esperar mais as horas de me reencontrar com a minha esposa e escapar desse mundo cheio de gente depressiva e louca, sem futuro no meio da vingança da natureza. A ansiedade está me matando, filho! E eu tinha te dito que nós íamos juntos!
DIEGO - Eu sei, eu sei, mas…
GERMANO - Campeão, já falamos sobre isso e ficou claro que não quero nada de choramingos, nem caras inchadas, e muito menos essa aflição com odor à autópsia fora de moda. Certamente Virginia pediu à Deus que eu fosse com ela… E Ele certamente me deu o tempo necessário para deixar as últimas coisas prontas aqui, no SEU paraíso terrestre!
DIEGO - Eu sei que a gente já falou disso antes, meu velho, mas você tem que entender que pra mim não é tão fácil de assimilar essas… essas excentricidades que tanto te caracterizam. (suspira, respira fundo, sorri) Você tem uma visão de morte bastante peculiar, mas eu não. Pra mim a vida é essa e nada mais. E também compreenda que pra mim não será fácil deixar de ver o meu querido pai em casa todo dia e ter que fazê-lo logo em um… em um cemitério.
GERMANO - Ai, campeão, isso você não terá de fazer nunca. Te disse que eu queria estar aqui na minha casa logo após falecer. Ser embalsamado nu, com minhas mãos no rosto, imitando meu quadro favorito: O Grito. Você me terá sempre ao seu lado… Imagina? Imagina quando vier seus amigos e verem a estátua original do louco Germano? Certamente vão querer te dar muito dinheiro pra comprar, ou roubar! Tenha muito cuidado com isso…
DIEGO - Pai! E pensou no que será de mim após essa situação? Como vou poder viver sem você? Pensou nisso?
GERMANO - Mas é claro, campeão. Você tem uma namorada perfeita, um amigo perfeito, é já um profissional e escolheu a carreira perfeita, terá o trabalho prefeito, a casa perfeita… Você é um filho praticamente perfeito. Só falta algo que me deixaria completamente tranquilo e realizado antes de morrer, e como você sabe que te conheço, sei que também te deixará completamente feliz, no seu paraíso tropical, e supriria grande parte da minha falta e com ela o vazio sobre você. Só falta essa última peça do quebra-cabeças que me custou montar, e onde você será essencial…
DIEGO (curioso) - Eu? E o que seria?

CORTE DIRETO PARA:
CENA 03. BAR - EXT. - 22:06.
Diego e Diana conversam sentados em uma mesa na parte exterior de um bar na Avenida do Mar. Ele aflito e ela exaltada. Impressionada, Diana cospe a bebida em Diego.
DIANA (grita) - Você tá louco, Diego?! No que você tá metido, louco?! (gargalha) Eu e você? Nos casar?
DIEGO - E termos um filho.
Diego limpa o rosto. Logo, sorri e cruza os braços.
DIANA - E pra me fazer essa piada de mal gosto me trouxesse com urgência a esse lugar, com música eletrônica que odeio?
Diana acende um cigarro.
DIANA - Poderia ter tido um pouco mais de consideração e me dar uma aliança, que seja, ou ter me convidado pra um lugar com gays e tragos melhores.
DIEGO - Eu não tô te zoando, Diana. É super sério o que estou te pedindo, anjinha.
DIANA - Hum… Deixe-me adivinhar… (deixa os olhos entreabertos e faz cara pensativa) Seu pai, certo?
Diego balança a cabeça positivamente.
DIANA - Até quando você vai seguir tudo o que seu pai quer? Até quando vai fazer ele acreditar que tem o filho perfeito?
DIEGO - Ele vai morrer, Diana.
Diego aproxima seu rosto ao de Diana.
DIEGO - Meu pai vai morrer em pouco tempo e tenho qu cumprir seu último desejo, seja como for. É o mínimo que posso hacer pelo coroa. Jamais falharia com ele!
DIANA - Você falhou com ele a vida toda, mitômano! O mínimo que deveria fazer por ele é contar que você gosta de pica, cuzão. Chega de tanta merda junta. De qualquer maneira, seguindo sua crença, ele vai ver tudo o que você faz aqui, depois que morrer. É óbvio que vai te observar do céu quando estiver com Ignacio, e não precisamente conversando ou jogando bola, e também vai se dar conta que grande parte da tua vida é mais falsa que os seios da Kenita Larraín.
DIEGO - Não diga essas coisas assim… (olha para os lados) Podem ouvir. Quero que meu pai seja feliz em seus últimos dias. Recém agora vou poder pagar de alguma maneira por tudo o que ele fez por mim, desde que me tirou daquele orfanato e me deu um futuro, para mim antes inimaginável. Se não fosse por ele, eu não seria ninguém nesse instante. Não teria profissão, casa, e nem uma vida pra seguir. Para ele, eu sou sua vida e se tenho que mentir pra seguir fazendo ele feliz, porra, vou seguir mentindo.
DIANA - E você acho que pro seu paizinho seria agradável saber que seu filho sacrificou toda sua vida pessoal pra vê-lo feliz? Gatinho, já fizesse muitas coisas contra seu gosto pra satisfazê-lo… Inventou uma nora, entrou pra equipe de futebol amador só porque sabia que ele gostava, tens vivido com seu namorado embaixo do seu teto fazendo ele se passar como teu cachorrinho perfeito, estudou um curso que você nunca gostou, só porque precisava ser o sucessor encarregado pelas plantações de mamão no Vale de Elqui! Assume que você nunca gostou de agricultura, nem de pantas nem de nada disso e que o seu sonho era estudar teatro e fazer esse curso de tecido de algas marinhas que você quer que seja da moda. Você acha que pra ele seria agradável saber de tudo isso?
Segundos de silêncio.
DIEGO - Você tá me ameaçando, por acaso, anja? (sorri levemente)
DIANA - Eu não ameaço, eu advirto, gatinho. (sorri e segue a fumar) E anota aí a merda que eu vou te dizer… nada disso vai ter um final feliz e todo o estresse que poderia criar devido ao que você planeja irá direto ao seu estômago, direto a sua úlcera. Vai ser como vinagre nesse molusco virgem.
DIEGO - Então você tá aceitando casar comigo e ter um filho?
Diego pega nas mãos de Diana.
DIANA - Te suicida, rata de bueiro.
Diego dá um tapa nas mãos de Diego e franze a testa, mas segue calma.
DIANA - Diego, eu já fiz muito por você me fazendo passar por sua namoradinha na frente do seu pai e dos seus amiguinhos. Não quero seguir me esfregando com você… até porque nem sabe beijar bem, me deixa toda babada, e a barba me dá alergia, por isso gosto de ser lésbica e sempre tá fedendo a essa cerveja tóxica de rico.
DIEGO - Mas tem que reconhecer que graças a mim, você e Susana estão juntas, felizes e casadas.
DIANA -  E já paguei o favor me transformando no seu escudo. Mas, claro, porque pra você nada é de graça, né? E acabasse de mencionar um importante detalhe, gato, eu não posso me casar porque já sou casada. E não seria bígama, isso já saiu de moda há tempos.
DIEGO - Anja, o casamento seria FALSO, FAKE, TEATRO, entendeu? E duraria só até meu pai morrer. Daí, adeus.
DIANA - Ah, claro. Então, você quer ter uma bonequinha bebê de comercial televisivo? Idiota. Aliás, você acha que eu vou sacrificar esse belo, esbelto e invejável corpo por uma cria chorona que vai me comer metade da carteira cujos únicos filhos que suporta são as ofertas de maconha.
DIEGO - Eu não sei pra quê fazer todo esse drama agora se há alguns meses me pediu pra doar esperma para você e Susana poder terem um filho. O que muda agora?
DIANA - É que é a Susana que pretende arruinar o próprio couro, não eu.
Diana já aparenta estar cansada, porém segue sorrindo calmamente.
DIANA - Se quer um filho, peça a Ignacio que te ajude, pô. (ri) Aliás, nessa história toda, qual é a opinião dele?
Diego fica em silêncio por alguns segundos.
DIANA - Eu não sei como esse garoto aguenta tanta merda sua… deve estar muito apaixonado por ti, coitadinho. Cê tem sorte nisso. A vida te premia apesar de tudo…
DIEGO - Meu gatinho me apoia, me encobre em tudo, porque me ama, me entende e confia em mim.
DIANA - Ai, olha ele, o hétero fodástico e seu cachorrinho. O macho alfa, o Chuck Norris, o Rambo, o que prefere comer melões do que banana. Peito peludo sentimental.
Diana segue rindo.
DIEGO - Filhote de cadela, maluca. (pouco abalado, mas sorrindo) Você adora falar merda, ah… Adora a idiotice.
Diego olha para os lados e percebe o lugar mais cheio de gente e havia dois grandes grupos de jovens universitários se aproximando do local. Levanta-se, Diana estranha, e ele pega um microfone que estava perto de uma mesa mais longe e chamou a atenção de todos.
DIEGO - Diana, meu amor.
Diego vai até Diana, ajoelha-se e pega suas mãos.
DIEGO - Eu sei que você deve estar um pouco confusa, com o coração batendo mais forte que sei lá o que. Mas devo dizer aqui, em frente a toda essa galera que é o futuro do nosso país que eu te amo, te amo tanto que nenhuma doença terminal como a que estou sofrendo, me impedirá de casar com você antes de partir pra outra…
DIANA (chocada, fala entre dentes) - Diego… Que merda você tá fazendo, louco?
DIEGO - Não é preciso que me responda agora, de imediato.
Todos estão voltando suas atenções para eles.
DIEGO - Mas eu não pude segurar a vontade de te pedir em casamento… Não sigamos mais caindo no pecado na hora de fazer amor e que agora possamos fazê-lo em uma cama banhada pelas graças do Senhor.
Diana fica completamente chocada, sem saber o que falar em frente à frieza de seu amigo e todos olhando ao seu redor. Sorri pasma, assustada, sem conseguir acreditar em até onde a manipulação de Diego poderia chegar.
DIEGO - Diana, você é tudo o que um homem hétero como eu necessita! Você é um bombom, mais doce que qualquer algodão, cê é a pessoa perfeita que fez meu coração diabético se apaixonar!
A multidão emite um “awwwwn” e grita “Aceita! Aceita!”.
Diana, afobada e envergonhada, olha ao seu redor com um sorriso sínico, e logo pousa seus olhos sobre Diego, que aguarda por uma resposta, em meio a risadas, gritos de algumas pessoas dizendo coisas como: “Romeu”, “me faça sua”, “quero um assim”.

CENA 04. CASA DE SUSANA E DIANA - EXT. - 23:54.
Susana encontra-se fumando um cigarro na calçada, enquanto tira fotos em seu celular pelo aplicativo Snapchat. Logo, Diana aparece, chateada, e Susana lhe dá um beijo.
SUSANA - Que cara é essa, gatinha? Por acaso foi muito ruim o roteiro do teatro com o Diego? Ou o gatão te fez pagar a conta de novo?
DIANA - Acredita que o Diego acabou de me pedir em casamento?
Elas entram. Diana joga sua bolsa no sofá e logo se joga também.
DIANA - Armou uma cena fodida ali mesmo, na frente de uma manada de suricates que caíram no show dele.
SUSANA - O que ele fez?
DIANA - Me pediu em casamento como um Romeu, meu amor, em alto e claro tom, só pra que eu aceitasse a merda que ele me propôs… Ali mesmo, na frente de todo mundo, mas deixei claro minha posição sobre o assunto. O Diego tava achando que eu ia premiar sua bela atuação com um “sim”, mas a única coisa que recebeu foi um tapa.
SUSANA - Não acredito. Tá de brincadeira? Essa cena de novo…  (gargalha) Ameeeei.
DIANA - Pode acreditar, e agora quer brincar de família feliz, de papai e mamãe, mas seriamente… fraldas, cordão umbilical, sem camisinha, amateur, criança…
SUSANA - Mas por quê? Como assim?
DIANA - Além de querer que eu me case falsamente com ele, quer que tenhamos um filho… Acredita nisso? UM FILHO! Tudo pra cumprir uma promessa fodida que fez àquele velho louco do Germano, que tá pra juntar as patinhas e partir pra uma melhor.
Susana, boquiaberta e assustada, começa lentamente a esboçar um sorriso, que confunde Diana.
SUSANA - Um filho? Ai, anjo! Ai, amor! (sorri, emocionando-se, limpando lágrimas) Suponho que aceitou de primeira…?!
DIANA - Quê?!
SUSANA - Seria uma idiota, mulher, se não aceitasse essa oferta.
DIANA (surpresa) - Ãhn? (indignada) Ou seja, pra você tá bom que eu reprima meus sentimentos e ter que me moldar pra agradar um mitômano? Que bela situação! Eu sempre pensando em você e no nosso casamento e tá desejando que duas alianças falsas me prendam mais do que já estou à Diego!
SUSANA - Amor, eu não me incomodei durante esses dois anos que você levasse uma relação falsa com Diego. O casamento não ia mudar nada. Como se eu tivesse que ter medo do Diego.
Susana ri.
DIANA - Mas é que “casar”, “casamento”, “me prender a um homem”, mesmo que de mentira, são palavras maiores, entende?
SUSANA - Porém você mesma acabou de falar que vai ser falso. E também seria a oportunidade perfeita para realizar nosso sonho, amor. Nosso sonho de sermos mães! (abraça Diana, emocionada)
DIANA - É…? (se distancia um pouco e engole a saliva) No que cê tá metida?
SUSANA - Sim, olha. (se ajeita no sofá e olha Diana fixamente) Me escuta… Você sabe como é o Diego. Ele fará tudo o possível pra cumprir o que prometeu ao coroa, seja como for, usando de todos os métodos possíveis. Por isso agora é você que tem as cartas na manga, garota… Não tá vendo que o Dom Gê te vê como a nora perfeita, obviamente cê é essencial.
DIANA - Como assim? Não entendi, gatinha. Me explica melhor, por favor.
SUSANA - Te disse que a única forma que aceitarias casar com ele, seria que eu fosse a mulher inseminada, como sempre tivemos de acordo, e que depois esse filho será criado por nós. E ele que se esqueça que a criança saiu dos seus testículos, entendeu?
DIANA - Você taria disposta a aceitar que eu finja ser a esposa do Diego em troca de cumprir nosso sonho? (franze a testa)
SUSANA - Óbvio, minha gatinha. Pelo nosso sonho, sou capaz de tudo. Tome as rédeas da situação, porque é uma oportunidade que não só Diego está nos dando, mas que a própria vida está nos presenteando. Acorda pra vida, amor!
Diana analisa a fala de Susana durantes alguns segundos. Se pões mais segura, olha a Susana e sorri, e depois pega o celular e disca um número.
DIANA - Alô, mentiroso? (come uma unha) Está em casa agora?

CENA 05. CASA DE GERMANO - QUARTO DE DIEGO - INT. - 10:28
Diego está dormindo no quarto desarrumado. Diana e Susana o acordam batendo forte a porta. Diana se põe em frente à cama, com as mãos na cintura.
DIANA - Ai, parece que a cachaça tá forte por todos os lados, meu anjo. E de novo por essa cerveja bosta que cê ama tanto tomar. Ou será que ainda tá tonto pelo tapa que te dei ontem? (gargalha)
DIEGO - Selvagem, você, anjo… Os ossinhos das bochechas ainda estão doendo, está delicado. Me fez passar incrivelmente por ridículo. Menos mal que ninguém que eu conhecia estava no meio. (senta, meio sonolento) E vocês, o que fazem aqui? O coroa chamou vocês?
DIANA - Tá se fazendo de idiota? Ou talvez o tapão tenha te feito ficar com amnésia. Oh não, o pobre Diego se esqueceu que nos disse pra vir hoje às dez e meia da manhã pra conversar sobre um assunto que pra ele é de vida ou morte!
SUSANA - Dieguinho, se prepare desde agora, nenhuma manhã voltará a ser igual às anteriores.
Susana abre as cortinas, sorridente e radiante.
SUSANA - Prepare a aliança, as taças, o traje de pinguim e o mais importante de tudo: o bolo, que deve ser de pêssego ou de floresta negra, por obrigação, ok? (o beija na bochecha e dá uma piscada em seguida)
DIEGO - Cês tão de brincadeira?
Diego pula da cama e dá um abraço na inalterável Diana, completamente feliz.
DIEGO - Eu sabia que não ia me foder!
DIANA - Eca! (se distancia) Vamos te ajudar, mas só com uma condição…
DIEGO - Qual?
DIANA - Eu vou me casar com você. Falsamente, óbvio, se, e somente se, a Susana for a inseminada… E obviamente você vai ter que se esquecer da criança pra sempre, porque seremos nós quem daremos uma casa e uma família. Ok?
DIEGO - Mas, Diana, eu…! Você sabe que o…!
SUSANA - Dieguinho… (pega nas mãos de Diego) Diana está disposta a fingir uma gravidez e tudo a que isso leve, até que seu pai… bem… até que “aquilo” aconteça. Mas com essa condição… De qualquer forma, em nada mudaria o nosso acordo de alguns meses atrás quando queríamos que nos doasse esperma e repentinamente mudasse de decisão. Bom, agora queremos te ajudar e tu, aceitando, também nos ajudaria um monte.
Diego franziu a testa e ficou em silêncio por uns segundos. Sabe que é a única forma que terá pra conseguir o que quer.
DIEGO - Ok. (fica de pé e abraça Diana) Acho que é o mais sensato a se fazer. Aceito o trato… mas vou ser o padrinho da criança, ok?
DIANA (irônica) - E, então, quando nos casamos, gatinho?
Germano entra no quarto.
GERMANO (contente) - Casamento? Estou morrendo de felicidade! (olha para o céu) Virgínia, ouviu isso?
O trio, surpreso, olha entre si, em silêncio. Diego sorri levemente.

CENA 06. CASA DE GERMANO - SALA - INT. - 12:56.
Germano, com luvas térmicas, traz uma garrafa de champagne, a qual é servida nas taças de cada um deles. Breve, Ignacio entra pela porta, ficando surpreso ao ver a algazarra.
Melina, a “chefe dos empregados”, sempre séria, observava de longe.
GERMANO - Chegou! Chegou seu amiguinho, DIego!
Germano leva uma taça para Ignacio
GERMANO - Vem, garoto, rápido. Chegou na hora certa!
IGNACIO - Na hora de quê?
Ignacio entrava, deixando sua mochila no sofá enquanto olhava, nervoso, para Diego.
GERMANO - Venha, Venha, filho! Venha e dê um abraço ao seu compadre que está a ponto de pôr a aliança, ao seu grande amigo que está a ponto de se converter no melhor marido do mundo e no maior pai do mundo também!
IGNACIO (impactado) - Quê? (abraçando Diego por inércia)
DIEGO (no ouvido de Ignacio) - Te explico tudo depois mas, por favor, finge felicidade agora.
Diego beija Ignacio na bochecha e aperta sua mão. Diana um pouco longe deles, sussurra à Susana.
DIANA - É incrível como o Diego se converte num mentiroso profissional quando tá na frente do pai. Que merda essa situação, amor. Sério, estou me arrependendo de ter aceitado.
SUSANA - Ai, aposto que esse Ignacio vai fazer cara de cu ou vai fazer um show pro pobre Dieguinho. (olha com raiva a Ignacio) É um mal agradecido, insuportável fedendo a leite, aproveitador e mal criado.
DIANA - E o que você quer que ele faça, gatinha? Que felicite ele? Que faça um bolo e dê pra ele na boca? Se eu fosse Ignacio, meu pé direito estaria entre as pernas dele, com força e ódio. Mas trouxa como ele é…
GERMANO - Vamos! Vamos! (levanta a taça) Levantem suas taças, embora na minha contenha chá de erva-de-santa-maria, quero brindar, porque devo tomar meus comprimidos logo e meus últimos dias de vida cuidar. Por Diana e Diego! Por sua felicidade! Pelo futuro do casamento perfeito! Saúde!
A maioria exclama: “Saúde!”. Ignacio olha para Diego, esboçando um falso sorriso.
IGNACIO - Bem, cara… E quando se supõe que é o grande e sagrado casamento? Quando pediu a mão da dama? Eu nunca soube nada disso.
GERMANO - Não, não, não. Queremos saber COMO pediu a mão dela. Foi tudo muito rápido! (desviou o olhar a Diego) Mas como o galã que você é, campeão, suponho que seu esforço foi ao mais puro estilo da energia potencial, né?
DIEGO - Não foi nada. (toca no rosto e olha para Diana, indicando que ainda está dolorido) Você sabe, pai… Velas, ondas, um trago, mar, corações… o resto já pode imaginar.
IGNACIO (segurando a raiva) - Patético, na verdade. Patético. Eu achava que essas coisas quem faziam eram as minas. Está muito afeminado, cara.
GERMANO - O que você disse, “filho”? Senti que falou algo, mas não pude ouvir bem.
IGNACIO - Disse que é patético… patético que Diego não tenha pedido Diana em casamento antes. (sorri, sínico, olhando a Diego, que está nervoso) Dava pra perceber desde muito tempo que o amor saltava entre eles ao ponto de gritar pelo altar. Se notava em todos os lados… Quando a dedicava as músicas da Rihanna, ou contava o final da novela da tarde anterior que ninguém super. Mas fiquei completamente SURPRESO agora que soube que, além de casar, querem ter um filho… E já sabem qual o nome da criança? Ricky? Judas? Bigamia?
O sorriso de Diego se esvaiu pouco a pouco, deixando exposta sua incomodidade.
SUSANA (irritada) - O que acontece é que você tá com inveja, ciúme, fofo, porque sabe que nunca, mas nunca, poderá ser como Diego nem poderá ter um pouquinho da classe que ele tem e que transborda a cada segundo!
Diana tenta acalmar Susana.
GERMANO - Inveja? Ciúme do Diego? Eu entendo que Ignacio possa ter um pouco de ciúme, já que quando aparece o casamento, o espaço para os amigos fica mais reduzido que antes, mas nunca pra tratá-lo assim, Susan… Aliás, não tens porque temer, Ignacio. Essa é sua casa, e pode ficar o tempo que quiser para terminar seus estudos. Não atrapalha em nada que Diego se case e forme sua família…
DIEGO (nervoso) - Ciúme do quê? (olha para Ignacio severamente, dá de ombros e volta-se a Germano) Se esse cara sabe que sempre terá ao seu lado seu brother, seu amigo. (olhou para Ignacio fixamente, transmitindo sinceridade) Ignacio sabe que sempre terá ao seu lado a pessoa que mais o ama acima de tudo… Ou não, Ignacio?
GERMANO (surpreso) - QUÊ? Tem uma namoradinha por aí, Ignacio? Por que não me apresentou ainda?! Traga antes que eu morra!
Ignacio silenciou, mostrando arrependimento por suas palavras. Balançou a cabeça positivamente e esboçou um leve e falso sorriso.

CENA 07. CASA DE GERMANO - QUARTO DE IGNACIO - INT. 13:34.
Ignacio, sério, está arrumando sua roupa. Ao terminar, se senta na beira da cama com seu violão. Logo, Diego entra, abrindo a porta lentamente, ficando de pé em frente a Ignacio, cheio de confusas emoções.
DIEGO - Meu anjinho… amor… Olha, pode me ouvir um pouco?
IGNACIO - Sai daqui, Diego. A verdade é que não quero conversar com você agora.
Ignacio com os olhos cheios de lágrimas.
DIEGO - Se não te disse nada, foi porque não tive tempo, anjinho! (senta ao lado dele) À noite saiu super tarde da aula e hoje foi muito cedo pra universidade. Pelo menos me olha, por favor
Diego pega o rosto de Ignacio e pode ver as lágrimas escorrendo. Ele as limpou.
IGNACIO (em tom baixo) - Sempre teu coroa! Ele é tudo e eu sou o cadarço desamarrado do tênis! Aquele que ninguém quer amarrar até que pisem nele. Estou cansado de ser na frente da maioria teu amigo zoeiro. Estou cansado de ser apresentado como um encosto e não como a pessoa que você ama! Porque apesar de tudo isso, suponho que me ama… né?
DIEGO - Claro que te amo, Ignacio. Claro que te amo!
IGNACIO - Sim, é muito fácil dizer. Talvez eu esteja te pedindo muito, como se eu não tivesse muito a perder… Mas eu tenho suportado milhares de coisas, anos assim e vejo que ainda isso não rende nenhum fruto pra nós… Quando vai ser o dia em que poderemos gritar aos quatro cantos do mundo o quanto nos amamos? Quando será o dia em que faremos amor e eu não vou ter que me segurar pra gritar com força o quanto eu te amo? Quando será o puto dia que seu pai não vai intervir em absolutamente tudo que fazemos e sonhamos?
DIEGO - Sabe quando? (triste) Sabe quando?! Vai ser quando ele morrer. Em alguns meses, não mais que isso, te garanto. Fica feliz em saber, né? Fica feliz em enfatizar isso sempre?
Ignacio, arrependido de suas palavras, ficou em silêncio e baixou o olhar. Diego, também arrependido de sua reação, se aproximou para abraçá-lo.
IGNACIO - Sou um egoísta. Perdão. (cai uma lágrima e, logo, limpa) Desculpa…
DIEGO - Não. Você que me perdoe (abraça-o mais forte) Você é um homem de ouro e meu dever é cuidar você… E estou fazendo isso pessimamente! Perdão.
IGNACIO - É que fiquei completamente mal ao saber de tudo assim de supetão. Mas, aliás, isso que seu pai disse sobre você ter um filho, é verdade? O que você tem em mente agora?
DIEGO - Lembra que há alguns meses Diana e Susana me pediram esperma para que pudessem ter um filho e você não deixou porque a condição era de que me impossibilitaria de me aproximar do bebê como pai?
Ignacio assente.
DIEGO - Bom, agora Diana me ajudará com o pedido do meu pai pra eu cumprir antes que ele morra e se casará comigo falsamente, em troca que eu doe meu esperma… Não sei o que tem meu esperma de especial que chama tanto a atenção (ri) Você sabe, por acaso?
IGNACIO - Bom, Diego, e o que diferencia daquela vez? Você sabe que posso suportar todos os teatros, exceto que passe a ter criança pelo mundo e não permitam você em ter influência sobre a criança, muito menos se sabe que meu grande sonho é ser pai e ter um filho com você.
DIEGO - É isso que justamente tenho mais que claro. Eu que tomarei as rédeas da situação e seremos nós os pais dessa criança (olha fixamente e sincero, com grande segurança) Essa criança que Susana trará ao mundo ficará sob minha total custódia. Meu filho, nosso filho, será só nosso, e de ninguém mais.
Ignacio, impactado, arregalou os olhos. Diego, decidido, sorriu triunfalmente.
FADE OUT.

CONTINUA NO PRÓXIMO EPISÓDIO…

Texto Original
Sergio Rojas Muñoz

Adaptação
Aashley

Produção
OnTV

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